Páginas

30 de agosto de 2010

29 de agosto de 2010

Festa

No último piquenique, estávamos todos quase virando picolé e o convescote foi uma grande reunião de narizes vermelhos e corizantes. Mas a despeito do tempo adverso, estavámos também felizes de estarmos lá, reafirmando a importância que esses encontros têm pra gente.

E têm mesmo, uma importância imensa, de afirmar uma possibilidade de viver essa cidade de um jeito diferente.

O tempo de todo dia, aqui nessa cidade imensa e fervilhante, é o tempo do trabalho e da correria; o tempo dos caminhos rotineiros, traçados a asfalto; o tempo do relógio, e mais dos minutos e segundos que das horas ou períodos. A nossa experiência da cidade é, em geral, o todo-dia da casa-trabalho-casa ou, no caso das crianças, da casa-escola-casa. É também tempo de desencontro ou do encontro breve e apressado. Na porta da escola, no corredor do trabalho, na frente da máquina de café.

A cidade de todo-dia é áspera e arranha um pouco a gente. Porque nessa cidade, tão rica e tão pobre, tão velha e tão nova, tão grande e tão pequena, o cotidiano é, em geral, árido. Especialmente se você tem que sair de casa todo dia e usar a cidade sem poder vivê-la.

Como escapar, pelo menos de vez em quando? "Lazer", poderíamos pensar. Mas o lazer, pelo menos esse que nos oferecem - organizado em shoppings, às vezes mesmo em parques, teatros, cinemas... - não é o avesso do cotidiano. Não faz com ele contraponto porque parece que ainda aí, nesse espaço de "descanso", há tantas necessidades e ofertas que o tempo persiste em tiquetaquear dentro da gente. E a gente desaprende a fazer nada. Sinto muito, mas o lazer não é o avesso do cotidiano (ou, pelo menos, não sempre).

A gente não faz piquenique por lazer, feito programa que se escolhe no guia. A gente faz piquenique pra se ver, se encontrar, conversar sem pressa, se ouvir com calma, dividir receitas, recuperar um tempo perdido que talvez só tenha existido mesmo no nosso desejo (mas cuja saudade, nem por isso, é menos real). Fazemos piqueniques para celebrar o tempo próprio de crescer o pão, misturar ingredientes, ficar em sintonia com a fruta da época.  Para viver a cidade, descobrir também suas delicadezas, rememorar que a barriga ronca, colocar os pés no chão, o bumbum na grama, estender a mão para colher as frutas. Porque a praça e a esquina também são locais de encontro pra quem vive perto (de fato ou de sentimento) e deseja se reconhecer.

Para que o avesso do cotidiano seja a festa. Essa festa macia e sem pressa de partilhar a mesma mesa - justaposição de tecidos, cores e padrões, que sempre se estende mais um pouco para que caiba aquele e aquela que chegam. Essa festa de quem decidiu interromper o corre-corre para restar parado e, assim, simplesmente, respirar a brisa de um tempo pleno. Mesmo que seja uma brisa gelada.

27 de agosto de 2010

Antepasto de coração de banana

Já mostrei esta receita no Come-se, da própria Veronika - veja lá. Mas, como ninguém clica linque e como a iguaria apareceu no último piquenique, deixo registrada a receita também no Piperca, já que é tipo de preparo que funciona bem para café da manhã, almoço, jantar. Com suco, café-com-leite ou vinho. A Veronika diz que faz sempre a olho, como eu também faria, mas consegui arrancar dela a fórmula aproximada.


Antepasto de coração de banana no vapor do alfavacão. Receita de Veronika Paulics
1 coração de banana (o botão que fica no fim do cacho, que deve ser tirado quando as bananas ainda estão verdes)
2 colheres (sopa) de suco de limão diluidos em 1 litro de água
1/2 colher (sobremesa) de sal misturado com 1 litro de água
Cerca de 20 folhas de alfavacão (se não tiver, use manjericão de folhas grandes)
1/2 xícara de nozes picadas6 azeitonas verdes picadas1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
3 colheres (sopa) de salsinha picada
2 colheres (sopa) de vinagre
Azeite e sal a gosto
De preferência, usando luvas, corte com uma faca afiada as folhas do coração em tirinhas bem finas, deixando de molho em água com o suco de limão antes e depois de picar (só enquanto trabalha com o ingrediente). Em uma panela com água e sal já quente ferva as tirinhas escorridas por 5 minutos. Enquanto isso, faça com as folhas de alfavacão uma caminha no fundo de um recipiente de vidro - que possa ir à mesa. Coe as tirinhas de coração e jogue-as ainda quente sobre as folhas, para que fiquem impregnadas com o vapor aromático. Junte as nozes, azeitonas, pimenta, salsinha, vinagre, azeite e sal. Sem mexer, tampe a vasilha e deixe em repouso até esfriar completamente. Só então misture os ingredientes sem desmanchar a cama de ervas. Prove o sal e corrija, se necessário. E junte mais azeite se quiser conservar na geladeira por mais alguns dias. Sirva com pão ou para temperar e complementar salada de folhas verdes.

25 de agosto de 2010

Num dia frio, calor humano

15-08-10_1313wi
Se pra Neide e Veronika piquenique tem o sentido do encontro para comer coisas deliciosas e ver os amigos perto de casa, para mim, que não sou muito boa na cozinha, só o encontro com o desfazer-se da rotina da semana basta. Não precisa ser perto de casa. Aliás no meu caso “Piquenique perto de casa” é “Piquenique longe de casa”. Moro na zona sul e o piquenique é na zona oeste. E daí? É longe.
O frio daquele dia deve ter sido o mesmo para todos nós que estávamos lá. Cada qual de onde tenha vindo, perto ou longe. Até as crianças estavam encolhidas quando o frio aumentava. Dias raros de inverno. Saíram do armário os gorros, o cachecol, o poncho. Palavras que usamos tão pouco num país tropical que quando vou escrever tenho até que conferir no dicionário se ainda se escreve com ch ou mudou para x. Tantas reformas ortográficas… Sei lá. Melhor checar.
Com ou sem piquenique, com ou sem encontro, uma coisa nunca falta: imagem do outro. Mesmo um celular dentro do bolso pode ajudar a guardar na memória de cada um o que foi aquele piquenique perto de casa de um dia muito frio. Já que as comidas gostosas a Neide trouxe para cá com deliciosas fotos, trago o outro lado, de quem comeu, lambeu os dedos e aproveitou.

15-08-10_1259wi

Poucas imagens de um pouco tempo que lá estive. Mas cada imagem mostra estampada a coragem de quem saiu de casa mesmo num dia tão frio só para se encontrar, fazer um pouco de nada junto, olhar para o outro. Se encorujar na praça. Jogar conversa fora. Relaxar. Se ver. Talvez, quem sabe, procurar um pouco de calor humano.

15-08-10_1227wi

15-08-10_1219wi

E como é interessante encontrar pessoas que voce ainda não sabe. Conhecer alguém que saiu pra você do mundo virtual. Como foi o caso da Fabiana, do blog
Noturnos Imperfeitos. Conhecia o blog mas não a Fabiana. E o Daniel Brazil, do Fósforo que foi lá e até levou uma geléia de laranja gostosa que está aí num post abaixo.

15-08-10_1316wi

Eu? Fui de mão abanando mesmo. Nem minha fiel companheira levei. Registrei com celular e com ajuda da minha filha. Não pude ficar muito tempo mas também vou guardar na memória fotográfica o dia frio em que nos encontramos. Corpos encasacados. Corpos encolhidos.

15-08-10_1305wi

24 de agosto de 2010

Muffins de mirtilos

A receita da massa, a Fabiana pegou no Come-se - de uns muffins de pitangas, já adaptada de uma outra. Mal me lembro daqueles, só sei que estes estavam pra lá de bom, muito fofinhos e ainda quentes. Vale lembrar que em São Paulo estamos em plena safra de amoras pelas ruas e que elas também podem ser usadas nesta receita. Ou invente seu próprio Muffin, pois uma coisa é certa: crianças e adultos adoram.
Se ela não fez nenhuma outra adaptação, a receita deve ter ficado assim:

Muffins de mirtilos (blueberries). Por Fabiana Jardim
½ xícara de manteiga sem sal, derretida
1 xícara de açúcar
2 ovos
½ xícara kefir ou iogurte natural
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (chá) de bicarbonato de sódio
1 pitada de sal
Raspas da casca de dois limões (um taiti e outro siciliano)
1 xícara de mirtilos (blueberries) polvilhadas com farinha
Unte com manteiga e polvilhe com farinha 15 forminhas de muffins. Numa tigela combine a manteiga derretida fria com o açúcar, os ovos e o kefir ou iogurte. Misture bem. Peneire sobre esta mistura a farinha, o bicarbonato e o sal. Mexa até virar uma massa homogênea. Junte a casquinha de limão e as frutas e mexa delicadamente para incorporar. Divida a massa entre as forminhas – deixando espaço para crescer. Leve para assar em forno médio preaquecido, por cerca de 30 minutos.
Rende: 15 muffins

Nota: foram usadas medidas padronizadas e rasadas: 1 xícara=240 ml; 1 colher (sopa) =15 ml e 1 de chá=5 ml

23 de agosto de 2010

Geleia de laranja seleta

Tive a sorte de levar a geleia pra casa e comer no outro dia com o pão de nozes que sobrou do piquenique. Mas, não vou me estender, não. Fala aqui o próprio Daniel Brazil, que usou laranjas do seu quintal. Um luxo:
Um dos segredos de uma boa geleia de laranja é escolher uma variedade de casca grossa, com bastante acidez. Laranja-lima, aquela docinha, não funciona. Seleta ou bahia (laranja-de-umbigo) são as mais recomendadas. No interior do Brasil é comum deixar as laranjas de molho, por alguns dias. Ou seja: Pegue as laranjas e deixe dentro de um balde com água, trocando a cada 12 horas. Se puser uma colher de bicarbonato de sódio, acelera o processo. Dois dias foram suficientes para esta receita, sem bicarbonato. Mas ficou amarguinha do jeito que eu gosto.
A partir daí, há várias maneiras de fazer. A que levei ao piquenique foi assim
:

Foto: Daniel Brazil. Roubei do blog dele, deste post
Geleia de Laranja seleta. Por Daniel Brazil
20 laranjas, descascadas e sem caroços.
1 xícara de cascas limpas
4 xícaras de açúcar
Suco de um limão siciliano
Alguns cravos (não exagere!)
Após descascar as laranjas, descarte as partes escuras e manchadas das cascas. Corte as cascas em fatias fininhas (uma xícara) e jogue na água fervente. Deixe por cinco minutos. Coe e repita o processo por três vezes, trocando a água. Limpe bem as laranjas, tirando o talo central e o excesso de entrecasca (aquela parte branca). Corte em pedaços e jogue na panela, com um pouco de água. Espere ferver e coloque o açúcar, mexendo com uma colher de pau. Coloque os cravos e o suco de limão e continue mexendo de vez em quando, até sentir o ponto de geléia (demora uns 40 minutos, pelo menos). Pegue uma colherada e deixe esfriar num pires, para ter certeza do ponto desejado (ao esfriar, deve formar ondas quando empura com o dedo).
Misture as cascas cozidas, mexa bem, deixe ferver e coloque em potes de vidro esterilizados. Com a prática, você vai chegar ao seu ponto, mais ou menos amarguinho. Sem conservantes, dura uns três meses na geladeira
.

20 de agosto de 2010

Rácsos linzer


O bom dos nossos piqueniques é que de vez em quando alguém traz algumas delícias de que nunca tinha ouvido falar, como esta torta húngara coberta com tiras de massa fazendo quadrados. Pelo menos o nome não sabia que era este. Há quem a chame de torta alemã. Mas como o que importa é que é deliciosa; deixemos a briga de paternidade aos interessados. O fato é que cai bem aos piqueniques.
Pra variar, a Veronika fez algumas modificações na receita original, em húngaro, e trocou as amêndoas por castanja de caju, parte da geleia de damasco por geleia de tamarindo (aprovadíssimo), entre outras veronices. Vamos, então, direto à receita dela, que deu muito certo. E, aqui, nem me meto, deixo a palavra com ela:
Rácsos linzer. Por Veronika Paulics
"como eu fiz: misturei 350 gramas de farinha de trigo com 240 gramas de açúcar, 240 gramas de manteiga em ponto pomada, 240 gramas de castanha de caju sem sal moída, 2 ovos inteiros e uma gema. esqueci a pitada de canela, que demorei para descobrir o que era (a receita original estava em húngaro) e coloquei leite até dar liga (menos que 10 ml). misturei e amassei e trabalhei a massa. dividi em duas partes, abri uma metade na assadeira, coloquei geleia de damasco numa parte, geleia de laranja em outra e tamarindo na terceira parte. fiz cobrinhas com a segunda metade da massa e gradeei a camada de geleia. passei gema na massa, pus no forno médio para quente e deixei muito tempo, uns 40 minutos. até que soltou da beirada."

19 de agosto de 2010

Bombocados


O Daniel Brazil ligou para a casa do Paulo Weidebach logo cedo, antes de sair para o piquenique. Quem atendeu foi a Clara, filha do Paulo e da Kelly. "Olha, não dá falar com você agora, porque estou fazendo bombocados para o piquenique e alguma coisa não está dando certo. Não dá pra falar agora, tá? tchau!". O Daniel chegou e contou a história. Ficamos todos curiosos para saber se teríamos ou não bombocados. Mas logo eles chegaram, quentinhos (os bombocados, porque a família estava geladinha). A massa pareceu que ia desandar, segundo Kelly, mas foi alarme falso porque o resultado é isto que podem ver. Já nós, felizmente, tivemos a sorte de, além de ver, também cheirar e devorar. Porém, deixamos aqui a receita.
Bombocados. Da família Weidebach
1/2 kg de açúcar
1 xícara de água
2 colheres (sopa) de manteiga
3 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado
6 ovos ligeiramente batidos
3 colheres (sopa) de farinha de trigo peneirada
manteiga para untar
Misture o açúcar com a água e leve ao forno até ferver e formar uma calda grossa com a consistência de mel. Deixe amornar. Junte a manteiga, o queijo, os ovos e a farinha de trigo. Mexa com uma colher de pau. Distribua a massa em forminhas untadas com manteiga. Leve ao forno quente (220ºC), preaquecido, e deixe assar até dourar. Retire doforno e desenforme ainda quente, passando antes uma faca sem ponta em volta dos bombocados.
Rende: de 15 a 20 bombocados

18 de agosto de 2010

Manteiga de limão para passar no pão


Foi difícil fazer por causa do frio, mesmo deixando a manteiga em temperatura ambiente. Mas cismei que iria combinar com o pão de nozes e passas. Com temperatura por volta dos 12 graus no domingo de manhã, a manteiga não chegava ao ponto de pomada nunca. E só quando ela está bem molinha (não derretida), é que é possível formar uma emulsão estável com o suco de limão. Entao cortei-a em pedacinhos, coloquei numa tigela e apoiei sobre uma panela com água morna. Fui mexendo devagar para amolecer sem derreter (se derrete, a manteiga fica granulosa quando volta a endurecer) e aí, sim, consegui misturar as duas coisas. Mesmo com a adição de líquido, a manteiga chegou ao piquenique super firme por causa do frio que solidifica a gordura. De qualquer forma, comemos aos pedacinhos sobre o pão ainda morno. Aqui vai o jeito de fazer:
Manteiga de limão
200 g de manteiga sem sal
2 colheres (sopa) de suco de limão siciliano
1 colher (sopa) de suco de limão rosa
A casca dos dois limões ralada
Flor de sal ou sal refinado a gosto

Coloque a manteiga bem macia numa tigela e mexa bem. Junte, aos poucos o suco dos limões, até incorpor tudo. Tem que ir colocando devagar, para não talhar. Junte, então, a casca dos limões e o sal (se quiser, use a manteiga salgada e elimine o sal da receita).
Rende: pouco mais de uma xícara
Nota: se sobrar, use para preparar peixes ou legumes cozidos

17 de agosto de 2010

Pão de nozes com uvas passas


Começo pelo meu pão a registrar as receitas do piquenique gelado de agosto. Só porque é mais fácil e tenho ainda frescas as medidas na cabeça.
Pão de nozes com passas
1 envelope de fermento biológico seco
3 colheres (sopa) de açúcar
3 xícaras de água morna (720 ml)
350 g de farinha de trigo integral
1 colher (sopa) de sal
1 ovo
Cerca de 950 g de farinha de trigo branca
150 g de uvas passas sem sementes umedecidas com 1/4 de xícara de água por 10 minutos e bem espremidas
250 g de nozes trituradas grosseiramente

1/4 de xícara de manteiga em ponto de pomada
Numa bacia dissolva o fermento e o açúcar com um pouco da água morna. Junte o resto da água, a farinha de trigo integral, o sal e o ovo. Misture bem com uma colher de pau. Acrescente a farinha branca, aos poucos, primeiro mexendo com a colher e depois, sovando bem com as mãos, até formar uma massa macia. Junte, então, as uvas passas, as nozes e a manteiga e misture bem para incorporá-los à massa. Se for preciso, junte mais farinha de trigo, até formar uma massa que se solte das mãos. Você pode fazer tudo isto numa bacia grande ou numa superfície enfarinhada. Cubra a massa com plástico e deixe crescer, até dobrar de volume. Divida a massa em 4 partes, molde os pães compridos ou em forma de bola. Coloque-os numa assadeira untada e enfarinhada. Cubra com pano e deixe crescer novamente (dentro do forno, por exemplo). Antes de assar, polvilhe farinha de trigo na superfície e faça cortes com uma faca bem afiada (ou estilete, bisturi). Leve para assar em forno bem quente, pré-aquecido, por 10 minutos. Diminua para a temperatura mais baixa (em fogões domésticos - ou por volta de 150 graus em forno elétrico) e deixe assar por mais 50 minutos. Devem estar dourados. Tire da assadeira, embale em sacos de pano ou papel e leve ao piquenique.
Rende 4 pães
Nota: se quiser guardar, deixe esfriar numa grade ou apenas coloque-os apoiados na borda da assadeira, para que o fundo dos pães não fique suado. Depois é só embalar e consumir em 3 dias (ou, para mais tempo, deixe-os na geladeira ou congele).
Um pão de nozes com aveia, germe e farelo de trigo já dei no Come-se. Veja aqui.

16 de agosto de 2010

Piquenique de agosto no domingo mais frio do ano


A gente se esforça muito para que aconteça pelo menos um piquenique por mês. O certo seria no primeiro domingo, mas no dia um não deu. No segundo domingo era dia dos pais, e acabou ficando para o terceiro.
E estava decidido, fizesse sol ou cinza estaríamos lá na praça. O frio era de doer os ossos, mas ninguém amoleceu (ou endureceu congelado). Muito poncho, japona, casaco, chapeu, boina, touca, mantinha e cachecol. Pra aquecer o ambiente, uma fogueira improvisada sobre uma chapa de metal apoiada num tripé de ferro para vaso. Meticulosamente planejada dias antes. Não queimou o chão, não sujou nada, e ainda diminuimos a pilha de lenha acumulada na praça para a prefeitura levar - tudo virou cinzas que no final se misturaram aos pedriscos. E a praça ficou limpinha, pronta para o próximo piquenique, para a próxima turma, para muitas turmas.
Para continuar esquentando, havia ainda chá, café, vinho e cachaça de cambuci - preparada pelo Paulo Weidebach que também trouxe, preparados pela Kelly com ajuda da Clara, bombocados tentadores. E o menino Vinícius não parava de repetir o quanto gostava de piquiniques enquanto sua mãe, Alessandra, lia estorinha pras outras crianças. Chico mostrou-se um lenhador incansável e disse que foi o melhor piquenique dos nove. Rodrigo se animou com as bananas assadas pelo pai na fogueira. Crianças brincaram ainda de encontrar folhas de acordo com um mostruário de diferentes formatos. Acho que uma corda para pular também teria ajudado adultos e crianças a sentir um pouco de calor.
O vapor dos muffins quentinhos da Fabiana chegaram antes que a família. E o carrinho da Veronika veio cheio de gostosuras também recém-saídas do forno - torta salgada e rácsos linzer (não se preocupe, você vai saber o que é nos próximos capítulos). Fátima e Claudio trouxeram sanduiches de pão macio, queijo e presunto (ou peito de peru), que alegra crianças e adultos (embrulhados em charmosos saquinhos de papel manteiga). Já eu, só consegui levar pão de nozes quentinho porque acordei às 5 da matina para tossir, tossir, beber água, xarope, tossir. Então aproveitei para preparar e deixar levedando uma massa de pão enquanto eu dormia mais uma pouco. Foi só acordar, moldar, deixar crescer e assar. Neste meio tempo ainda cozinhei ovos, fiz chá de hibisco, manteiga de limão e catei umas frutas. Marcos não esqueceu do vinho.
Ah, e finalmente conhecemos o Daniel Brazil (do blog Fósforo), leitor do blog, que chegou e se abancou como velho amigo (e já é), trazendo nas mãos geleia de laranja seleta do seu quintal.

Bem, com tanta coisa boa no cenário, o frio foi só um adorno ao nosso propósito que é sempre encontrar os amigos em local público para celebrar a amizade e compartilhar comidas e ideias - amenas ou não - e o tempo de ócio. Mas uma névoa úmida nos fez arrastar toalhas para debaixo de uma pitangueira. Depois passou, o ar amornou um pouco, vieram dois raios de sol, o tempo fechou de novo, esfriou mais ainda e agora, sim, era hora de apagar a fogueira, conferir se não deixamos rabo e seguir para o aconchego do lar, debaixo de muitas cobertas, aquecendo as lembranças boas deste domingo gelado. Que trememos um pouco, trememos, mas duvido que alguém vá esquecer este dia.

Mais sobre este dia gelado, no blog do Daniel Brazil: http://danbrazil.wordpress.com/2010/08/15/um-piquenique-de-domingo/

10 de agosto de 2010

quanto mais simples, melhor

para fazer um piquenique, não é preciso muito. em primeiro lugar, ter vontade de sair de casa. dentro de casa nem sempre é agradável. que seja no quintal. mas se houver alguma área pública, arborizada ou não, é melhor, garanto, bem melhor.
em segundo lugar, convide alguém. duas pessoas podem fazer piquenique? claro. uma só já pode, mas tem que gostar muito, muito de si mesma e ter novos assuntos em pauta. será que não há ninguém por perto que você queira encontrar? ah, sim, está melhor, convide.
há milhares de anos, quando os seres humanos se reúnem na alegria, comem juntos. é o tal pão partilhado. e não precisa ser pão. mas pode ser. também pode ser um bolo, pode ser um pacote de bolacha. pode ser um sanduíche de pão com ovo. pão com queijo. pão. pode ser pipoca, pode ser uma fruta. pode ser muitas frutas.
então, se vamos nos encontrar e comer, precisamos de um lugar para sentar. se tiver cadeiras portáteis, que bom. se não tiver, que tal um pano. qualquer pano: lençol, toalha de mesa, manta, cobertor, toalha de banho. até jornal serve. uns pratos. tem prato de plástico durável. não pesa, não quebra. dá para usar muitas vezes. o mesmo com copos ou canecas, caso o cardápio inclua um suco, um café, um leite. vinho.
tem gente que não dispensa guardanapos. por mim, pode ser um pano de prato limpinho que servirá para quem dele precisar. se for levar manga e melancia pro piquenique, leve mais panos de prato. se levar maçãs, lembre-se de uma faca.
eu não tenho lindas cestas compradas em lojas bacanas. mas tenho um carrinho de feira que veio da casa da avó do meu marido. e esse carrinho é o máximo. não, não está novinho. a tinta está meio descascada, os arames dos cestos estão um pouco tortos. mas cabe tudo nele: toalha, prato, caneca de ágata, garrafa térmica, garrafa de suco, pano de prato, faca, pão, fruta. e um garrafão de água para quem precisar lavar a mão. mais um pano. uma bola, um frisbe, corda para pular, o jornal, quando.
mas o mais importante é que mesmo sem comida, sem bebida, cestos, panos, brinquedos, cadeiras, o espaço é amplo. é nosso. precisamos reaver o nosso direito à cidade que nós mesmos construímos em nosso cotidiano. e reavendo o nosso direito à cidade, perdemos o medo. porque é o desconhecido que nos mete medo. e nós, desconhecidos, metemos medo nos outros. mesmo sem saber.
e se é pra conhecer, vamos conhecer o mais perto, o entorno do onde vivemos. descobrir vizinhos. fazer amigos, criar o sentimento de pertença que algumas vezes se esvai na vida que levamos. e, então, lembrar que somos todos humanos.
você não sabe se há algum espaço público perto da sua casa? você não conhece o entorno? ah, então, melhor que piquenique, é andar. ande. ande a pé... e divirta-se!