No último piquenique, estávamos todos quase virando picolé e o convescote foi uma grande reunião de narizes vermelhos e corizantes. Mas a despeito do tempo adverso, estavámos também felizes de estarmos lá, reafirmando a importância que esses encontros têm pra gente.
E têm mesmo, uma importância imensa, de afirmar uma possibilidade de viver essa cidade de um jeito diferente.
O tempo de todo dia, aqui nessa cidade imensa e fervilhante, é o tempo do trabalho e da correria; o tempo dos caminhos rotineiros, traçados a asfalto; o tempo do relógio, e mais dos minutos e segundos que das horas ou períodos. A nossa experiência da cidade é, em geral, o todo-dia da casa-trabalho-casa ou, no caso das crianças, da casa-escola-casa. É também tempo de desencontro ou do encontro breve e apressado. Na porta da escola, no corredor do trabalho, na frente da máquina de café.
A cidade de todo-dia é áspera e arranha um pouco a gente. Porque nessa cidade, tão rica e tão pobre, tão velha e tão nova, tão grande e tão pequena, o cotidiano é, em geral, árido. Especialmente se você tem que sair de casa todo dia e usar a cidade sem poder vivê-la.
Como escapar, pelo menos de vez em quando? "Lazer", poderíamos pensar. Mas o lazer, pelo menos esse que nos oferecem - organizado em shoppings, às vezes mesmo em parques, teatros, cinemas... - não é o avesso do cotidiano. Não faz com ele contraponto porque parece que ainda aí, nesse espaço de "descanso", há tantas necessidades e ofertas que o tempo persiste em tiquetaquear dentro da gente. E a gente desaprende a fazer nada. Sinto muito, mas o lazer não é o avesso do cotidiano (ou, pelo menos, não sempre).
A gente não faz piquenique por lazer, feito programa que se escolhe no guia. A gente faz piquenique pra se ver, se encontrar, conversar sem pressa, se ouvir com calma, dividir receitas, recuperar um tempo perdido que talvez só tenha existido mesmo no nosso desejo (mas cuja saudade, nem por isso, é menos real). Fazemos piqueniques para celebrar o tempo próprio de crescer o pão, misturar ingredientes, ficar em sintonia com a fruta da época. Para viver a cidade, descobrir também suas delicadezas, rememorar que a barriga ronca, colocar os pés no chão, o bumbum na grama, estender a mão para colher as frutas. Porque a praça e a esquina também são locais de encontro pra quem vive perto (de fato ou de sentimento) e deseja se reconhecer.
Para que o avesso do cotidiano seja a festa. Essa festa macia e sem pressa de partilhar a mesma mesa - justaposição de tecidos, cores e padrões, que sempre se estende mais um pouco para que caiba aquele e aquela que chegam. Essa festa de quem decidiu interromper o corre-corre para restar parado e, assim, simplesmente, respirar a brisa de um tempo pleno. Mesmo que seja uma brisa gelada.
O tempo de todo dia, aqui nessa cidade imensa e fervilhante, é o tempo do trabalho e da correria; o tempo dos caminhos rotineiros, traçados a asfalto; o tempo do relógio, e mais dos minutos e segundos que das horas ou períodos. A nossa experiência da cidade é, em geral, o todo-dia da casa-trabalho-casa ou, no caso das crianças, da casa-escola-casa. É também tempo de desencontro ou do encontro breve e apressado. Na porta da escola, no corredor do trabalho, na frente da máquina de café.
A cidade de todo-dia é áspera e arranha um pouco a gente. Porque nessa cidade, tão rica e tão pobre, tão velha e tão nova, tão grande e tão pequena, o cotidiano é, em geral, árido. Especialmente se você tem que sair de casa todo dia e usar a cidade sem poder vivê-la.
Como escapar, pelo menos de vez em quando? "Lazer", poderíamos pensar. Mas o lazer, pelo menos esse que nos oferecem - organizado em shoppings, às vezes mesmo em parques, teatros, cinemas... - não é o avesso do cotidiano. Não faz com ele contraponto porque parece que ainda aí, nesse espaço de "descanso", há tantas necessidades e ofertas que o tempo persiste em tiquetaquear dentro da gente. E a gente desaprende a fazer nada. Sinto muito, mas o lazer não é o avesso do cotidiano (ou, pelo menos, não sempre).
A gente não faz piquenique por lazer, feito programa que se escolhe no guia. A gente faz piquenique pra se ver, se encontrar, conversar sem pressa, se ouvir com calma, dividir receitas, recuperar um tempo perdido que talvez só tenha existido mesmo no nosso desejo (mas cuja saudade, nem por isso, é menos real). Fazemos piqueniques para celebrar o tempo próprio de crescer o pão, misturar ingredientes, ficar em sintonia com a fruta da época. Para viver a cidade, descobrir também suas delicadezas, rememorar que a barriga ronca, colocar os pés no chão, o bumbum na grama, estender a mão para colher as frutas. Porque a praça e a esquina também são locais de encontro pra quem vive perto (de fato ou de sentimento) e deseja se reconhecer.
Para que o avesso do cotidiano seja a festa. Essa festa macia e sem pressa de partilhar a mesma mesa - justaposição de tecidos, cores e padrões, que sempre se estende mais um pouco para que caiba aquele e aquela que chegam. Essa festa de quem decidiu interromper o corre-corre para restar parado e, assim, simplesmente, respirar a brisa de um tempo pleno. Mesmo que seja uma brisa gelada.
Gosto dos piqueniques e dos passeios despretenciosos pelas ruas e praças, porque estão livres e dissociados do consumo. Lazer, na nossa cidade, virou sinônimo de comprar, adquirir, consumir. Trocam-se as praças pelos shoppings e surge o consumo como intermediário de nossas relações. Passeamos sem olhar para quem caminha ao nosso lado, porque estamos mais preocupados com as vitrines. Enfatizamos, assim, nossa solidão em meio à multidão. Que bom que há praças e pessoas dispostas a estar juntas, apenas por estar. Beijos, Adriana.
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