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15 de julho de 2010

Reserva


Apesar do título, não vou falar de vinhos, nem de floresta. Minha Reserva não cabe em tonéis, nem tem edição limitada; tampouco pode ser demarcada para preservação. Minha Reserva -  e digo minha só porque sou eu que estou escrevendo sobre ela, pois que a ela nem se aplica exatamente a ideia de propriedade - é de outro tipo.

O último piquenique, apesar da ausência-presente da Veronika, foi delicioso... O dia amanheceu nublando (assim mesmo, no gerúndio), mas logo o sol apareceu para nos esquentar e iluminar nosso piquenique. A toalha estendida, as comidinhas espalhadas, e muitas conversas com aqueles que vão se tornando familiares e com aqueles que apareciam pela primeira vez. Um experimentadinha no quitute novo, e uma experimentadinha na conversa nova; uma capitulação à receita já conhecida e um novo sabor na conversa familiar. Tudo bem longe do tempo do relógio, que na praça o tempo é que nem a toalha: se estica, se espraia, perde a borda.

E tem pão quentinho, tem berinjela temperadinha, tem bolo de banana, sanduichinho de ovo, café quentinho, chá, suco de buriti (delicioso!)... E tem a compota da Chus que, juro para vocês, é tão luminosa que parece que ela colheu a manhã ensolarada, misturou com açucar e guardou lá dentro. E tem tanto cuidado e carinho, nas farinhas, ovos, frutas, nos óleos, no açucar e no sal... A gente sai do piquenique satisfeito - de barriga e coração quentinhos.

E é por isso que eu falei de Reserva. Sabe num dia que nem hoje? Cinzento, chuvoso, de caos no trânsito? Então. A cada piquenique a gente monta uma reservinha - da hora em que começa a se preparar à hora em que decide levantar acampamento - de luminosidade, quentura e paciência. E sabe naqueles dias de tristeza, em que o cinza é dentro da gente? Então. A alma acostumada a se esticar nos piqueniques cutuca o cinza, até a gente lembrar que a vida passa rápido - e que por mais funda que seja a melancolia, de repente tem um outro dia e a gente abre a janela, tira o pó dos móveis, bate as colchas e põe no forno alguma coisa que cheire até não deixar vestígio de sombra. E nos dias de absoluta solidão? A gente pode acorrer à reservinha de partilha, risadas, gritos infantis cheios de descobertas ou mesmo recuperar o silêncio de esticar o ouvido para ouvir melhor o grilo que se esconde na grama alta.

Nos piqueniques, a gente faz uma reservinha de vida bem vivida - com prazer, boa companhia e sem pressa. Partilhando uns minutinhos que viram horinhas de conversa, que viram dias inteiros de brincadeira, que viram meses de convívio e troca. Pra lembrar a gente de como é boa essa vida sem agenda.

7 comentários:

  1. Fabiana, texto lindo! Só vale assim, sem agenda, sem obrigação. A gente vai porque tem muita vontade de compartilhar. E não vejo a hora que chegue o próximo - dia 15 de agosto! Ah, é suco de bacuri do Marajó. O de bacuri, o farei com as lascas que a Veronika diz que trouxe do Piauí!
    beijos, N

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  2. Lindo texto, mesmo! A Neide tem razão.

    Bom para me lembrar que tem coisa boa em São Paulo também, eu, paulistana de alma caipira que fugi daí há tanto tempo!

    beijo

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  3. Neide, obrigada. É mesmo, né? O gostoso é a vontade de estar junto, sem nenhuma pressa.
    Espero que até o próxima a chuvinha dê uma trégua!
    E eu, de novo, confundi o nome dos sucos :-) É que na minha cabeça urbana, sei lá por que, bacuri sempre foi um peixe e aí fico toda atrapalhada. Já buriti, sim, nos meus arquivos mentais está classificado como árvore (só por causa do Guimarães Rosa, senão...).

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  4. Nina, obrigada. Tem coisa boa em São Paulo, sim, mesmo que de vez em quando a gente precise fazer o esforço de lembrar... É que, infelizmente, a depender de como a gente vive aqui, nem sempre a reservinha dá pra muita estrada, né? Aí só fugindo mesmo. Beijo!

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  5. Olá!
    Sou nova aqui... mas já estou encantada com o blog e com vcs...
    Comecei a ler e me imaginei participando dessa amizade... posso participar?
    Como faço?
    beijos e obrigada pelos textos!

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  6. Oi, Dani, que bom que se sente em casa por aqui.
    Você mora em São Paulo? Nosso próximo piquenique será no dia 14 de agosto e você, é claro, será muito bem vinda! Para participar é assim: você chega e se apresenta :-)
    Beijos!

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  7. Oi Fabi,
    Moro em SPaulo, próximo à Pinheiros... quero ir ao próximo! Espero que consiga...rs (sou meio tímida...rs)
    Beijos e obrigada pelo carinho!

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